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06
Nov24

Vieram Como Andorinhas de William Maxwell

Cláudia F.

Tinha como habito ir à feira dos alfarrabistas no Chiado quando era mais nova. Foi num desses passeios que comprei "Adeus, Até Amanhã" de William Maxwell. Na altura não o compreendi, achei a história estranha. No entanto de tempos a tempos lembrava-me dele. Há uns anos decidi reler e tornou-se num dos melhores livros de sempre. Não só consegui entender com maior facilidade tudo o que a obra engloba como fiquei bastante entusiasmada perante a possibilidade de descobrir a sua bibliografia. Infelizmente só encontrei dois livros dele traduzidos. Adquiri este "Vieram Como Andorinhas" e li em Agosto.

Não me cativou tanto quanto o anterior, ainda assim foi uma leitura prazerosa. Maxwell tem o dom de nos transportar para outra época, caracterizando uma certa sociedade americana de forma muito directa, sem floreados. Mais um livro pequeno que se releva enorme.

A construção das personagens infantis é magistral, como se estivéssemos efectivamente perante uma criança que nos relata os seus sentimentos e emoções. Ambos os livros têm como centro a mesma temática, atmosfera, época e retratam famílias muito similares. As questões de género são aqui bem trabalhadas e demonstram, de forma mais ou menos óbvia, como existências limitadas por uma visão conservadora sobre a família e os papéis de cada progenitor conduzem, basicamente, a vidas infelizes. É uma perspectiva extra a que se consegue chegar ao ler os trabalhos de Maxwell (que viveu entre 1908 e 2000), baseada na riqueza com que o escritor desenvolve as relações entre as personagens. A subtileza e elegância com que trabalha o relacionamento das crianças com a figura materna e paterna, o que cada uma delas representa no seu micro-universo e a extensão que a dinâmica familiar acarreta nos traços de personalidade em construção nestas idades. Eram outros tempos, marcados pela rigidez, autoritarismo e, infelizmente, ausência de afecto na figura paterna e o seu oposto nas personagens femininas que surgem como cuidadoras, preocupadas, carinhosas e salvadoras. A fertilidade e gravidez, o desapego e incapacidade de demonstrar sentimentos, a visão da criança que perde o colo e a única fonte de carinho, a pandemia da gripe espanhola, encaixam perfeitamente neste pequeno puzzle triste que o escritor nos oferece.

Reforçando a componente autobiográfica de "Vieram Como Andorinhas", também a mãe de Maxwell faleceu vitima de gripe espanhola quando ele era pequeno, o que certamente contribuiu para a forma amorosa e tocante como retrata momentos rotineiros entre mãe e filho. É didáctico compreender como se viveu uma pandemia em 1918-1920 e comparar aos anos de covid-19. Assustador e fascinante em simultâneo.

Aqui fica o "Adeus, Até Amanhã" lido pelo próprio.

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