Sei que Palestina, Uma Nação Ocupada é uma das leituras mais aconselhadas para quem se interessa pela causa palestiniana ou para quem a desconhece e gostaria de aprender alguma coisa. Cruzei-me com ele num destaque da biblioteca sobre o conflito genocídio na Palestina e requisitei.
Irritou-me o tom de aborrecimento da narração - a quantidade de chás que o jornalista tem de tomar, as crianças chatas, e toda a restante conotação negativa associada aos palestinianos como se houvesse necessidade de equilibrar a balança para dar um tom mais neutro à demonstração do seu sofrimento. Nem anjos nem demónios, estão a ver? Compreendo também que isto faça parte da construção da personagem do jornalista, que até pode ser uma espécie de crítica à forma como os jornalistas lidam com países de culturas diferentes, etc., e para quebrar o tom sério da exposição das práticas horríveis do governo israelita. Para mim é uma abordagem imatura.
Tirando isto: gostei mais pela relevância e consciencialização que oferece sobre a Palestina do que propriamente sobre o seu valor literário. Como leitora não me acrescentou, mas isso é defeito meu.
Este livro data de 1993. Infelizmente não só continua actual como a situação em Gaza se agravou ao ponto de estar a decorrer neste momento um extermínio em massa e adivinhem? Ninguém quer saber. Bem, alguns tem desculpa pois têm em mãos situações gravíssimas para resolver. Tipo, os portugueses estão bué ocupados com choramingar primeiro e ter pequenos orgasmos agora com a alteração do logótipo da República, que é mesmo ultra relevante para a vida dos cidadãos, certo? É este o nosso nível como povo. Aliás se isto não é representativo das nossas prioridades no palco político, não sei o que será. Bem, estou a divagar. Como cedo me interessei pela história do povo palestiniano, cedo também procurei ler sobre ela. Encontrei algumas obras em alfarrabistas como: Cultura e Resistência de Edward Said e Memórias de Uma Aldeia Palestiniana Desaparecida de Mohammed Al Asaad. Ou Miral de Rula Jebreal e o mais recente Um Detalhe Menor de Adania Shibli.
Aconselho todos mais do que o do Joe Sacco. Desculpem-me os fãs da banda desenhada.
Artigo interessante sobre o Edward Said, uma das principais vozes palestinianas no Ocidente, aqui.
Ninguém se questiona sobre a quantidade de livros publicados só sobre Auschwitz?
O Tatuador de Auschwitz, O Mágico de Auschwitz, A Bailarina de Auschwitz, As Gémeas de Auschwitz, As Costureiras de Auschwitz, As Cartas Perdidas de Auschwitz, O Farmacêutico de Auschwitz, A Ruiva de Auschwitz, Sonata em Auschwitz, O Bebé de Auschwitz, Os Bebés de Auschwitz, A Rapariga de Auschwitz, O Fotografo de Auschwitz, Os Que Desapareceram em Auschwitz, A Bibliotecária de Auschwitz, O Voluntário de Auschwitz, Duas Irmãs em Auschwitz, O Violino de Auschwitz, A Contadora de Histórias de Auschwitz, As Irmãs de Auschwitz, O Sabotador de Auschwitz, A Pianista de Auschwitz, O Rapaz de Auschwitz, A Violinista de Auschwitz, O Carteiro de Auschwitz...
Pesquisando sobre a invasão da Ucrânia, livros publicados entre 2022 e 2024:
A Mais Breve História da Ucrânia, Ucrânia Insubmissa, Uma Mensagem da Ucrânia, A Ucrânia e a Rússia, Ucrânia - 35 Pontos Fundamentais para Entender a Invasão Russa, Uma Encíclica sobre a Paz na Ucrânia, Ali Está o Taras Shevchenko com Um Tiro na Cabeça: Diário da Ucrânia, A Verdadeira Guerra: A invasão da Ucrânia e a Defesa Nacional Portuguesa, A Porta da Europa: Uma História da Ucrânia, Os Resistentes: O poder do sacrifício humano no combate ao invasor. Da antiguidade à Ucrânia, Viagem ao Coração de uma Guerra Futura Ucrânia, Rússia, Leste da Europa 1995-2022, A Guerra Quente e a Paz Fria - Sobre as origens da guerra na Ucrânia, A Guerra Russo-Ucraniana O regresso da história, Ucrânia - Uma guerra de embustes, Ucrânia - O que Toda a Gente Precisa de Saber...
Neste momento penso: porra, devem existir carradas de livros sobre a ocupação da Palestina e o colonialismo israelita. Pesquiso.
Palestina - Uma Biografia - Cem anos de guerra e resistência, A mais Breve História de Israel e da Palestina - Do sionismo às intifadas e a luta pela paz, Viagem à Palestina - Prisão a céu aberto, As Origens do Conflito Israelo-Árabe...
Na primeira pesquisa utilizei apenas "livros Auschwitz". Na segunda pesquisa utilizei apenas "livros Ucrânia". Na terceira pesquisa utilizei apenas "livros Palestina".
Não posso ser a única a achar que há um problema no mercado livreiro em Portugal (e no mundo). Não posso ser a única a questionar a quem serve este filtro sobre o que se edita ou não se edita quando assistimos a um genocídio.
Se agora, com todas as atrocidades que estão a ser cometidas pelo governo israelita, o mundo não acordar e apoiar definitivamente a causa palestiniana, não valemos nada como colectivo que habita este planeta.
Um dia a Palestina será livre, do rio até ao mar.
Reflexões interessantes que encontrei por estes dias aqui e aqui.
Sobre o lóbi israelita/sionista: livro porreiro da Tinta da China.
Ps: existem outros livros sobre a Palestina que já estão fora de circulação, só se encontrando à venda em alfarrabistas, bibliotecas e em segunda mão. Existem também outros livros sobre Auschwitz e sobre a guerra na Ucrânia mas limitei-me a listar os publicados recentemente ou que se conseguem comprar facilmente. Ler para saber é primário. Com tanto que se tem falado (mais em Outubro e Novembro) sobre a Palestina é natural que aqueles que pouco sabem sobre a situação procurem livros. Se foram à wook, por exemplo, existem aqueles três primeiros (em português). Três livros sobre uma atrocidade cometida desde 1948, com tanto para expor, para reflectir. Três livros apenas.