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25
Jul24

Satânia de Judith Teixeira

Cláudia F.

Não sou pessoa de poesia. É uma falha como leitora que reconheço. Ainda assim li Decadência. Apaguei por completo da memória. Encontrei como livro do dia na FLL o Satânia. Por ser prosa, foi uma leitura muito mais apelativa. Reúne dois contos, Satânia e Insaciada, e a conferência De Mim.

Como aqui já referi quando escrevi sobre Maria Archer, frequentei um curso online da Bertrand dado pela Lúcia Vicente, referente a estas duas escritoras. Estava a fazer a colecção do Público* sobre escritoras portuguesas censuradas durante o Estado Novo, comprei o Decadência, que salvo erro foi dos primeiros a sair. Pouco ou nada sabia sobre Judith Teixeira. Neste artigo do Público sobre como vivia a comunidade lgbtqi+ em Portugal durante o Estado Novo e nos anos que o antecederam, temos um resumo da perseguição que a escritora sofreu:

"Na década de 1920, há na Europa, sobretudo na Alemanha, a "expressão de uma cultura homossexual literária e uma discussão científica sobre a homossexualidade" que em Portugal é acompanhada pelas "elites sociais e culturais", diz Cascais. Mas o vanguardismo literário português vai ser cortado ainda antes do 28 de Maio de 1926 - golpe de Estado, liderado por Gomes da Costa, que inicia os 48 anos da ditadura portuguesa e que levará Salazar ao poder - por um movimento que anuncia o esteio cultural e mental de adesão ao salazarismo.
Liderada por Pedro Theotónio Pereira, a Liga de Acção dos Estudantes de Lisboa, movimento católico criado em 1923, consegue que o Governo Civil interdite os livros de poesia homossexual de Judith Teixeira (Decadência), António Botto (Canções) e Raul Leal (Sodoma Divinizada). A polémica levará à ostracização destes três poetas."

Vou poupar-vos à minha opinião sobre grupinhos religiosos. Judith, que até ao ataque destes virgens ofendidos, era até bem considerada nos círculos literários e na classe instruída consumidora das artes, continuará a ser atacada e sem que ninguém a defenda, ao contrário do que sucedeu com os outros escritores visados pela Liga.

"Judith Teixeira, por sua vez, foi gradualmente remetida ao absoluto silêncio até morrer, também em 1959, mas em Lisboa. Foi ainda mais maltratada do que Botto ou Leal, diz a historiadora Alice Samara. "[Fernando] Pessoa, no texto que escreve em defesa dos dois, não fala dela." A crítica que lhe é feita, à época, "é política e não literária". 
Essa ferocidade tem uma razão: "É uma mulher que quebra o pudor e afronta o homem."

Perdeu-se a Judith que, de 1927 a 1959 (ano da sua morte), nada mais escreveu. De Satânia, gostei mais do primeiro conto do que do segundo mas o que achei realmente interessante foi a conferência De Mim, em que a escritora defende uma escrita livre de amarras sociais, honesta e longe do moralismo vigente. É um texto, quase um manifesto, em defesa da liberdade criativa, do futurismo e de si própria.

Actualmente encontram-se online alguns estudos feitos sobre a sua obra e vida (do pouco que se conhece). Sobre a sua bissexualidade ou homossexualidade há duas linhas: os que a consideram lésbica e vêem na sua obra a honestidade de quem escreve sobre si própria ou os que analisam os seus escritos no contexto patriarcal, onde a mulher é fruto do desejo, e nesse caso, Judith escreveria da mesma forma que os seus pares escritores, apesar de ser mulher; esta segunda tese também se apoia no caso de Judith ter sido casada duas vezes, o que para mim é completamente irrelevante - muitos homossexuais e lésbicas vivam em relacionamentos heterossexuais, cumprindo assim a norma para evitar a ostracização social. No fundo nunca saberemos mas faz-me sentido que na incerteza e pelo conteúdo da sua obra seja pelo menos inserida na categoria de literatura queer/lésbica.

Este livro foi uma leitura agradável, ainda que a dose de sentimentalismo e tragédia, presente nos dois contos, seja em demasia para esta leitora.

Trabalho interessante aqui.

*Neste ponto já estou fartinha de escrever sobre a colecção aqui, ainda por cima está esgotada, pelo que nem aparece no site do jornal, para conseguir redireccionar para lá quem tiver interesse.

23
Jul24

Leme de Madalena Sá Fernandes

Cláudia F.

Não vou dizer absolutamente nada de novo ou original sobre este Leme. A leitura seguiu no registo praticamente igual à de todos os leitores, a julgar pelas opiniões que fui encontrando.

Lê-se muito bem, não só porque é um livro pequeno, mas porque a história é envolvente. A escrita simples e directa cria um ritmo de leitura rápido. Trata uma realidade dura e pouco explorada no panorama português, principalmente no registo de auto-ficção. 

É muito bem conseguida a exploração da complexidade da relação sobrevivente-abusador, pela perspectiva da criança/adolescente que se torna vitima por proximidade, cheia de zonas cinzentas e limitada pela sua percepção infantil/imatura do contexto familiar em que está inserida.

A desmistificação da ideia do vilão, da pessoa que é 24H/24H um monstro horrível (às vezes é, outras nem por isso), o grau de tolerância que vai diminuindo conforme a violência aumenta (e aumenta sempre) até que a vivência se torna impraticável, o ar irrespirável e a extensão do que se viu e ouviu ganha contornos e sequelas que ficam de forma permanente, que se tenha consciência ou não. O transtorno de personalidade narcisista, que é uma marca comum em agressores (principalmente nos que são mestres na manipulação, violência psicológica e verbal) é retratado de forma muito realista.

Foi uma boa leitura. Estou cada vez mais fã de livros pequenos (apesar de neste momento estar a ler um calhamaço japonês). Vou ver se deito a mão ao Deriva

19
Jul24

Vinte Anos de Manicómio de Carmen de Figueiredo

Cláudia F.

Já aqui mencionei o meu interesse em ler escritoras portuguesas. Há uns anos comprei naquelas feiras nas estações de metro, o livro 100 Portuguesas com História de Anabela Natário que desde então está na minha mesa de cabeceira. É a leitura mais demorada de sempre no meu reportório. Entre livros, principalmente naqueles que me deixam inquieta após finalizar a leitura, costumo ler algumas páginas do 100 Portuguesas. Fico sempre impressionada com a capacidade de: 1. preservar-se informação ao ponto de 2. uma investigadora conseguir reuni-la e dar-nos a conhecer existências fascinantes que para o cidadão comum são absolutamente desconhecidas. 

Portanto, quando digo que quero descobrir mais escritoras portuguesas são as escritoras desconhecidas ou pouco recordadas que me interessa particularmente ler. Carmen de Figueiredo é o pseudónimo de Carmelinda Miolet Morena de Figueiredo, nascida em 1916 e falecida a 2006. Escreveu quinze romances, três livros de contos e uma novela.

Eu tenho três: Vinte Anos de Manicómio (colecção Público), Colégio de Rapazes (1955) e O Muro de Cristal (1958). Ainda só li o primeiro e foi uma leitura agradável. A escrita é muito acessível, sem floreados aborrecidos, com umas pitadas de sarcasmo, crítica social e um certo erotismo que valeram à escritora a censura da PIDE.

"Tenho a honra de solicitar de V. Exª. se digne mandar apreender o livro intitulado “VINTE ANOS DE MANICÓMIO”, da autoria de Carmen Figueiredo, editado pela “Empresa Literária Universal”, Travessa da Era, nº 17, em Lisboa, por ter sido proibido de circular no País, o que desde já muito agradeço.

A Bem da Nação

Lisboa, 31 de Janeiro de 1952"

Os senhores do regime ficaram desagradados por uma mulher ousar escrever sobre sexo, infidelidade e coisas assim, ainda por cima num estilo mais "masculino".

"Parece-me condenável este romance pelos trechos (por vezes páginas inteiras) de realismo tão cru e descrições de tal basévia e lubricidade que custa a crer terem sido escritas por uma mulher."

A história começa com Bento e Lídia, que se mudam para Lisboa para explorar uma mercearia e aí garantir uma educação adequada e um futuro digno à sua filha Lourdes. Esta está mais para mulher independente do que doce e recatada do lar. Representa ainda a mulher sexual e erótica, muito longe da representação que o regime defendia, da mulher casta, obediente, assexual, materna. A figura da mulher é desconstruída ao associar-lhe comportamentos amplamente aceites/justificados no género masculino mas negados no feminino. Por exemplo, Bento é infiel à sua esposa e incapaz de ter sexo com ela, no entanto recusa que a filha Lourdes mantenha as mesmas praticas (recusa de sexo ao esposo mantendo relações extraconjugais) pelo simples facto de ser mulher. A infidelidade e desapego de Lourdes acabam por conduzir o marido João Lúcio a um estado de doença física e mental, sendo posteriormente internado num manicómio, falsamente acusado de loucura.

A personagem de João Lúcio é curiosa, tão ao mais que a de Lourdes. A autora atribui-lhe características que estavam quase exclusivamente associadas à condição feminina: o histerismo, a depressão, ataques de pânico, insónias...É enclausurado durante vinte anos numa "casa de loucos" para que a sua esposa consiga viver os seus romances sem a opressão do matrimónio. Só consegue a liberdade fingindo a própria morte e mesmo livre não supera a existência sofrida, optando pelo suicídio.

Estas dinâmicas são por isso muito interessantes, principalmente olhando para a época em que a escritora viveu e publicou.

Não posso, ainda assim, dizer que considero este livro uma obra extraordinária. As personagens são rasas, não apresentam qualquer conflito interior, permanecem iguais do início ao fim do livro. Não há desenvolvimento nem picos de intensidade. Faltou alguma complexidade na estruturação da história, mais zonas cinzentas para puxar o realismo.

Os únicos livros que foram editados recentemente, através das colecções Censura no Feminino (2021) e na Biblioteca da Censura, são Vinte Anos de Manicómio e Famintos. Com uma produção tão numerosa, que justificação haverá para não se investir na publicação dos seus livros? O que leva a que nenhuma editora portuguesa o faça? Tirando os que, como eu, compram em alfarrabistas e tem a sorte de ainda encontrar alguns velhos exemplares, tão pouco têm a oportunidade de conhecer o seu trabalho. E sim, novamente, existem bibliotecas. Na minha rede, por exemplo, há cinco livros da autora para requisição. Cinco livros entre dezanove obras. É uma oferta ainda assim limitada. Estas duas opções (alfarrabistas e bibliotecas) partem sempre da procura do leitor. É preciso que o leitor conheça para que procure. E como se conhece uma escritora apagada, sobre a qual pouco se sabe? Eu própria só chego a estas escritoras após primeiro me interessar, procurar informações, listar obras e de tempos a tempos comprar os livros possíveis, mediante a oferta no mercado alfarrabista.

Repito-me: são escritoras que viram os seus trabalhos retirados de circulação pela ditadura, que colocaram em causa a sua própria integridade para escreverem estas histórias. Décadas depois: ninguém as conhece. Não são lidas. Não são estudadas. Tão pouco celebradas pela sua coragem de tentar sobressair numa área de homens, onde homens decidiam o que elas podiam ou não criar. É de lamentar.

Trabalhos muito interessantes sobre a escritora e as suas obras Vida de Mulher aquiFamintos aqui.

15
Mai24

Ela bateu às portas da vida

Cláudia F.

São poucos os escritores que me fascinam ao ponto de querer ler toda a sua obra. O tempo é curto, livros são demasiado caros e nem sempre existem na biblioteca - o que me dificulta a exploração. No entanto, quando fico verdadeiramente empolgada faço questão de comprar, não apenas pela posse material do livro, mas pela satisfação de ler um/a escritor/a que já me fez feliz. Os livros da minha estante são uma espécie de horcrux (mas versão do bem e não das trevas) que, se não guardam parte da alma do seu criador, pelo menos preservam a memória que tenho de cada leitura. Às vezes vou ao escritório e fico alguns minutos só a olhar para eles, tiro um ou outro, lembro-me de qualquer coisa sobre aquelas histórias ou sobre o momento em que os li, volto a guardar no sítio. Sinto-me feliz ali, perto deles. Penso que todos os leitores sentirão o mesmo.

Uma das minhas últimas paixões literárias é Maria Archer, escritora, antifascista.

Fiz praticamente toda a colecção Censura no Feminino do Público, em que se inclui Ida e Volta de Uma Caixa de Cigarros e Casa Sem Pão. Depois da leitura destes dois e enquanto procurava informações sobre a escritora, encontrei um curso online da Bertrand sobre Maria Archer e Judith Teixeira (também faz parte da colecção), dado pela Lúcia Vicente. Julgo ter sido este ou outro bastante semelhante. Fiquei ainda mais interessada em ler as restantes obras de Archer, principalmente Aristocratas, pelas apreciações ouvidas no curso. Consegui comprá-lo a um preço aceitável (há quem o venda entre os 30€ e os 60€, preços bem acima das capacidades de uma pobre proletária como eu). Li e fiquei arrebatada. Para mim é uma obra-prima. Foi o livro mais aclamado pela crítica literária, apesar de Archer já estar, na época, sob vigilância da censura. A componente auto-biográfica que lhe valeu a ostracização familiar e que chocou o círculo social onde até então se movia, acrescenta uma certa magia a toda a narrativa, principalmente se soubermos de antemão como foi a sua vida. Se o terminei de lágrimas nos olhos? Sim. 

Ao fim de alguns meses comprei Bato Às Portas da Vida, que iniciei sem grandes expectativas, pensando "a senhora tem de ter algum livro que não seja de excelência, certo?" Só que não. Num registo muito mais obscuro, sem as pitadas de humor que encontramos noutros trabalhos, esta leitura foi verdadeiramente emotiva e triste. Acompanhamos a narradora desde a infância até à idade adulta, atravessando diferentes períodos da história portuguesa. Maria Archer tem o dom de, de forma subliminar, através da sugestão ou da intuição, passar para o leitor a complexidade do meio em que a história decorre sem necessidade de desdobrar a acção. Tudo gira em torno da narradora e ela carrega às costas o peso da narrativa. Estas características aplicam-se não só a Bato Às Portas da Vida mas, na realidade, a todos os seus livros.

Decidi comprar as únicas edições "recentes" que existem no mercado: Ela É Apenas Mulher e Nada Lhe Será Perdoado. Apesar de serem bons livros não chegam ao patamar dos que mencionei anteriormente. E não sendo geniais valem bem a leitura e o desprazer que é olhar para as suas capas. São óptimas histórias.

Em Archer não há pedantismo e floreados, a escrita é directa e crua, sem perder a beleza. Não há páginas a mais nem a leitura se torna em momento algum aborrecida. Aparenta simplicidade, mas tendo em conta que viveu e publicou durante a ditadura, detinha a mestria de brincar com as palavras, escrevendo ao não escrever o que pretendia transmitir, driblando a censura*. Exemplo disso é a forma como, em Aristocratas, relata uma violação brutal sem de facto o fazer, envolvendo o mecanismo de escrita na caracterização da condição feminina da personagem (silenciada na escrita, silenciada na acção, silenciada na sociedade alvo de critica). O livro pensado e estruturado como um todo que se une e funciona em plena sintonia.

A forma como a escritora explora a ligação materna, o terror psicológico e abuso físico entre pais e filhos, a castração da existência alheia baseada no sexo, a hipocrisia e a falsidade da classe burguesa, a podridão que vai corroendo as ligações familiares e contagiando tudo à sua volta, a luta pela independência das mulheres e as idiossincrasias da sociedade portuguesa, é feito com tal mestria que a eleva a uma categoria literária na qual tenho muita dificuldade em encontrar uma escritora, portuguesa, que lhe seja equiparável. 

Tenho para ler A Primeira Vítima do DiaboHá-de Haver Uma Lei, dois livros de contos. O primeiro comprei no ano passado e fui deixando na estante. Daqui para a frente os restantes livros que me faltam são cada vez mais difíceis de adquirir, pela sua escassez no mercado alfarrabista. Não quero chegar ao ponto de não ter nenhum livro da autora para ler. Sei que é inevitável, cada leitor tem as suas manias e esta é uma das minhas. Eis que me lembrei este mês de procurar novamente e encontrei Há-de Haver Uma Lei. Inserir aqui o som de gritinhos histéricos. Irei então ler um deles brevemente. O outro ficará na estante até à próxima compra ou até me sentir capaz de aceitar que é o fim desta jornada.

E escrevo tudo isto para quê? Para que mais pessoas se interessem pela obra de Maria Archer. Para que se procure, se leia, se conheça, se publique. Peço aos deuses livreiros: que se publique Maria Archer, caraças! É essencial que a sua obra seja lida para que não fique para sempre esquecida. Aliás, quantas Marias não existirão na literatura portuguesa, apagadas e desconhecidas?

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Artigo sobre Maria Archer aqui e livro biográfico recente sobre a escritora aqui.

* Maria Archer teve vários livros censurados, desde cedo sinalizada pela PIDE e sofreu forte vigiância, principalmente após o seu envolvimento no MUD e apoio à campanha eleitoral de Henrique Galvão: "acompanhou, de perto, o julgamento do contestador da ditadura salazarista, capitão Henrique Carlos Galvão no Tribunal Militar de Santa Clara. Tendo-se proposto escrever um livro sobre o mesmo, vira a sua casa invadida pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) logo após o final do julgamento, em 1953. Viria a publicá-lo em 1959, no Brasil, sob o título Os Últimos Dias do Fascismo Português".

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Carta de Maria Archer ao Governo pedindo para que o seu livro não seja censurado. A carta completa pode ser consultada aqui.

10
Abr24

Misericórdia de Lídia Jorge

Cláudia F.

De Lídia Jorge só tinha lido um conto que está presente na colectânea Vinte Grandes Contos de Escritoras Portuguesas.

Peguei em Misericórdia por fazer parte do grupo de leitura da biblioteca que frequento. Não estava com muita vontade (tínhamos lido recentemente Leite Derramado que, como já aqui contei, abandonei). A forma como se olha para os lares de idosos e estes são retratados segue, grosso modo, uma linha populista e sentimentalista de reforço à ideia de abandono e culpa que não me interessa minimamente.

Por isso vou destoar de todas as críticas espectaculares e maravilhosas que fui lendo até agora. Não é que tenha sido uma leitura horrível ou dos piores livros que li, pois caso fosse teria sido igualmente abandonado. Influenciada pelas opiniões super positivas, fui insistindo sempre com esperança que a história a dada altura quebrasse o ritmo e me agarrasse. Nunca aconteceu. E nunca aconteceu porque a história não é nem original, nem cativante. Para mim é o tipo de livro que ecoa a necessidade do escritor em escrever para si próprio, às vezes dá lugar a obras bem bonitas, outras caem no esquecimento.

O tamanho do livro é um exagero. Cada vez mais valorizo livros que sendo pequenos nos oferecem complexidade e personagens com profundidade. O que não é o caso aqui. A história é um poço de lugares comuns sobre lares, idosos e os seus receios, conflitos existenciais e familiares. Acredito que seja um tema difícil de trabalhar mas esta opção apresentada soa-me preguiçosa. Colocando de lado a componente biográfica, que me parece um óptimo ponto de partida, fico com a sensação que sobra pouco se excluirmos o apelo à empatia. 

Pontos que me agradaram: o realismo ao relatar as várias situações entre os trabalhadores do lar e os idosos, principalmente na exposição das condições laborais, na ausência de formação adequada, na exploração de mão de obra imigrante e as rotinas, as actividades e projectos que procuram estimular não só a parte física como a psicológica e que segundo a Sra. Alberti são degradantes - levante-se aqui a problemática do "isto faz bem" vs "sinto-me idiota a fazer isto". O tom caricato que às vezes sobressai no texto ajuda a que a leitura não seja tão aborrecida.

Tenho Notícia da Cidade Silvestre em casa, comprado há uns bons anos. Não o vou ler tão depressa.

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