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03
Abr24

Doida Não e Não de Manuela Gonzaga

Cláudia F.

Desconhecia a história de Maria Adelaide da Cunha até me cruzar com o livro de Manuela Gonzaga. 

Julguei que pelo volume do livro ia chegar a uma certa altura em que a leitura se tornaria aborrecida, afinal haveria tanta informação assim sobre um acontecimento tão lá para trás no tempo? Pois não aconteceu. Foi uma leitura bastante agradável, pouco dada a laivos de romance histórico, sucinta aos factos e acontecimentos a que a escritora conseguiu aceder através de documentação armazenada na casa da família Cunha.

"tive acesso a relatórios médicos detalhados, processos policiais, registos de tribunal, actas, bilhetinhos, cartas, diários, fotografias, livros publicados na época, assinados por psiquiatras, advogados, jornalistas, gente directa ou indirectamente envolvida na trama. Passei muitas semanas a consultar jornais, sobretudo A Capital e o Diário de Notícias de 1919 a 1923. Cruzei informações. Recolhi testemunhos orais, pois conheci pessoas que ainda chegaram a conhecer Maria Adelaide depois dela ter saído do Hospital Conde de Ferreira. Visitei os locais onde tudo isto se desenrolou. E, passei meses e meses na biblioteca da Senhora de São Vicente a ler e anotar de fio a pavio a documentação encontrada no fundo falso de uma escrivaninha. Eram as peças que Alfredo da Cunha coligira, para montar a teia da sua defesa e do seu ataque. Tudo, e por iniciativa dos novos donos, devidamente catalogado e arrumado em pastas. Centenas de documentos. Muitos milhares de páginas. Fascinante."

Fascinante, sem dúvida. De realçar que o que mais me interessou foi a manipulação da opinião pública e do circulo de proximidade de Maria Adelaide contra a própria, manipulação essa feita com base nas teorias cientificas mais "avançadas" da época na área da psiquiatria: as mulheres que fugiram ao padrão dos "bons costumes" eram histéricas, depressivas e claramente incapazes, portanto a solução estava numas temporadas enclausuradas em hospitais para doentes mentais, privadas de contacto com o exterior, onde a única coisa que crescia era o sentimento de injustiça. É realmente sinistro olhar para os problemas mentais, na figura da mulher, e associa-los ao útero ou ao clitóris; uma mulher decidir trair o seu marido jamais poderia ser um acto de uma mulher "sã", segundo os maiores psiquiatras portugueses como Egas Moniz ou Júlio de Matos (que seguiam a corrente de pensamento internacional). Não fosse Maria Adelaide uma senhora da alta sociedade e talvez nunca tivesse conseguido escapar. Aliás, quantas Marias Adelaides não terão existido sem terem deixado rasto?

Este livro acaba por complementar a leitura d'O Papel de Parede Amarelo de Charlotte Perkins Gilman, ainda que de forma não programada. Quando peguei neste Doida Não e Não não tive presente que tinha lido outro com a mesma temática recentemente.

Após ler, pesquisei um pouco sobre a Sra. Maria Adelaide e parece que há uma certa polémica em torno de um livro da Agustina Bessa Luís e na sua adaptação Ordem Moral. Não li Doidos e Amantes nem vi o filme, mas lendo esta entrevista não fiquei com vontade.

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