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19
Abr24

A Partir de Uma História Verdadeira de Delphine de Vigan

Cláudia F.

Andava desanimada com as leituras que fui escolhendo nas últimas semanas, prova dada pelas opiniões que debitei aqui, além dos que abandonei e não tenho mencionado. Talvez no final do ano faça uma lista desses pobres coitados.

A Partir de Uma História Verdadeira foi um empréstimo da biblioteca. Iniciei sem expectativas* e, pasmem-se, não só me surpreendeu como me entusiasmou ao ponto de não sossegar até o terminar. É desse tipo, um virar de página após página num entusiasmo crescente. Verdadeiramente prazeroso escrutinar as dualidades, nesta história cuja atenção se divide entre duas personagens, que podem ou não ser a mesma. Agrada-me muito esta dinâmica de não sabermos com toda a certeza qual é a verdade. Aliás, o que é a verdade, o que é a mentira, o que é real ou fantasia. Delphine envolve-nos de tal modo na teia que vai tecendo que só perto do final comecei realmente a questionar, e depois senti-me culpada por estar a duvidar do relato de narradora, como se ela fosse real (todos os nomes das personagens são nomes de pessoas reais, inclusive o da narradora que partilha nome com a autora do livro) e a história que estamos a ler partisse efectivamente de uma história verdadeira em que as vítimas, infelizmente, são rotineiramente questionadas e consideradas mentalmente perturbadas. O jogo entre ficção e auto-ficção, a problemática de existir sempre algo pessoal, que parte da existência do escritor e que, até de forma inconsciente, poderá passar para as suas obras, a crítica subliminar ao mercado editorial e até a nós, leitores, são temáticas muito bem exploradas neste livro - principalmente porque estamos tão embrulhados na relação entre a escritora e L. que mal damos conta que as sementes estão a ser plantadas ao longo da leitura e tudo vai germinando, até àquela última palavra com ponto final que me deixou de sorriso nos lábios pela leitura espectacular que Delphine de Vigan me proporcionou.

Se fui de imediato procurar outros livros da escritora? Ah, se fui! Comprei o Lealdades. Não o devo ler para já, vou fazer render este meu novo fascínio mais uns tempos.

* Ainda não mencionei mas eu não leio sinopses. No máximo passo os olhos pelo texto, apanho umas palavras e fico-me por aí. Principalmente quando são livros da biblioteca. Se os for comprar, aposto em escritores que já li e gostei, que fazem parte de listas de livros ou que aparecem referenciados mediante certos temas sobre os quais procuro ler. Por exemplo, comecei há uns anos a tentar comprar livros de escritoras portuguesas das quais só se encontra qualquer coisa em alfarrabistas. Tenho já alguns (uns em bom estado, outros nem por isso) dos quais não sei nada sobre a obra, por serem edições velhinhas (anos 30/40/50) e não terem sequer sinopse, nem se encontrar informação sobre estes livros online. Vou às escuras ou com pouca luz para grande parte das leituras que faço. Às vezes corre bem, outras nem por isso.

17
Abr24

E séries?

Cláudia F.

Comecei a ver esta série completamente às escuras (não foi escolhida por mim).

Há já algum tempo que uma série da netflix não me entusiasmava, vou a meio e cheia de curiosidade sobre como terminará.

Até agora (vamos no 4º episódio) está a valer cada minuto.

12
Abr24

A Mãe de Frankenstein de Almudena Grandes

Cláudia F.

No rescaldo do Misericórdia, decidi ler este que tinha requisitado na biblioteca, juntamente com mais quatro bem grandinhos, convencidissima que ia lê-los todos. Li três, abandonei um e nem tentei outro.

Foi a primeira experiência com esta escritora e não me deixou com vontade de ir ao segundo. Sinto que esta publicação também vai ser do contra. Juro que não é propositado e eu não sou assim tão irritante.

A Mãe de Frankenstein foi uma leitura chata, arrastada. É mais do mesmo: temos o médico que em jovem se viu obrigado a fugir do fascismo, a influência do regime em todas as esferas sociais, misturado com a religião católica, os judeus que escaparam dos nazis, as más condições dos hospitais para doentes mentais e a ausência de direitos e liberdade das mulheres. Preferia que a escritora se focasse só no manicómio, no crime de Aurora Rodriguez Carballeira e na eugenia (como era tão aclamada nos núcleos científicos e intelectuais, da direita à esquerda). Há demasiado ruído que se reflecte no número de páginas. Imaginem uma estante com frascos, cada um contendo um assunto, acontecimento ou conceito, organizada por temas e épocas. Almudena agarrou em vários frascos, da mesma prateleira, conforme conseguiu (caiu-lhe o dos campos de concentração, menos mal!) e escreveu A Mãe de Frankenstein.

Evito ler este género de livros simplesmente por não me acrescentarem. Funcionarão muito bem para todo um outro grupo de leitores. Não funcionam para mim pois sinto que estou a reler histórias que já conheço ou acontecimentos/situações/personagens que já se cruzaram comigo, se não em livros então no cinema. A Segunda Guerra Mundial é um tema para lá de esgotado. Ultrapassa-me a insistência na criação de livros que abordam esta época. Não que não seja importante ler sobre, só temos já publicados uma imensidão de livros assim, para os mais variados gostos. Tirando raras excepções, como o caso do livro Soldados de Salamina de Javier Cercas que li com anos de atraso e me deixou deitada em posição fetal, a chorar que nem uma bebé.

É o clássico caso do "não és tu, sou eu".

 

10
Abr24

Misericórdia de Lídia Jorge

Cláudia F.

De Lídia Jorge só tinha lido um conto que está presente na colectânea Vinte Grandes Contos de Escritoras Portuguesas.

Peguei em Misericórdia por fazer parte do grupo de leitura da biblioteca que frequento. Não estava com muita vontade (tínhamos lido recentemente Leite Derramado que, como já aqui contei, abandonei). A forma como se olha para os lares de idosos e estes são retratados segue, grosso modo, uma linha populista e sentimentalista de reforço à ideia de abandono e culpa que não me interessa minimamente.

Por isso vou destoar de todas as críticas espectaculares e maravilhosas que fui lendo até agora. Não é que tenha sido uma leitura horrível ou dos piores livros que li, pois caso fosse teria sido igualmente abandonado. Influenciada pelas opiniões super positivas, fui insistindo sempre com esperança que a história a dada altura quebrasse o ritmo e me agarrasse. Nunca aconteceu. E nunca aconteceu porque a história não é nem original, nem cativante. Para mim é o tipo de livro que ecoa a necessidade do escritor em escrever para si próprio, às vezes dá lugar a obras bem bonitas, outras caem no esquecimento.

O tamanho do livro é um exagero. Cada vez mais valorizo livros que sendo pequenos nos oferecem complexidade e personagens com profundidade. O que não é o caso aqui. A história é um poço de lugares comuns sobre lares, idosos e os seus receios, conflitos existenciais e familiares. Acredito que seja um tema difícil de trabalhar mas esta opção apresentada soa-me preguiçosa. Colocando de lado a componente biográfica, que me parece um óptimo ponto de partida, fico com a sensação que sobra pouco se excluirmos o apelo à empatia. 

Pontos que me agradaram: o realismo ao relatar as várias situações entre os trabalhadores do lar e os idosos, principalmente na exposição das condições laborais, na ausência de formação adequada, na exploração de mão de obra imigrante e as rotinas, as actividades e projectos que procuram estimular não só a parte física como a psicológica e que segundo a Sra. Alberti são degradantes - levante-se aqui a problemática do "isto faz bem" vs "sinto-me idiota a fazer isto". O tom caricato que às vezes sobressai no texto ajuda a que a leitura não seja tão aborrecida.

Tenho Notícia da Cidade Silvestre em casa, comprado há uns bons anos. Não o vou ler tão depressa.

05
Abr24

Palestina, Uma Nação Ocupada de Joe Sacco

Cláudia F.

Sei que Palestina, Uma Nação Ocupada é uma das leituras mais aconselhadas para quem se interessa pela causa palestiniana ou para quem a desconhece e gostaria de aprender alguma coisa. Cruzei-me com ele num destaque da biblioteca sobre o conflito genocídio na Palestina e requisitei.

Irritou-me o tom de aborrecimento da narração - a quantidade de chás que o jornalista tem de tomar, as crianças chatas, e toda a restante conotação negativa associada aos palestinianos como se houvesse necessidade de equilibrar a balança para dar um tom mais neutro à demonstração do seu sofrimento. Nem anjos nem demónios, estão a ver? Compreendo também que isto faça parte da construção da personagem do jornalista, que até pode ser uma espécie de crítica à forma como os jornalistas lidam com países de culturas diferentes, etc., e para quebrar o tom sério da exposição das práticas horríveis do governo israelita. Para mim é uma abordagem imatura.

Tirando isto: gostei mais pela relevância e consciencialização que oferece sobre a Palestina do que propriamente sobre o seu valor literário. Como leitora não me acrescentou, mas isso é defeito meu.

Este livro data de 1993. Infelizmente não só continua actual como a situação em Gaza se agravou ao ponto de estar a decorrer neste momento um extermínio em massa e adivinhem? Ninguém quer saber. Bem, alguns tem desculpa pois têm em mãos situações gravíssimas para resolver. Tipo, os portugueses estão bué ocupados com choramingar primeiro e ter pequenos orgasmos agora com a alteração do logótipo da República, que é mesmo ultra relevante para a vida dos cidadãos, certo? É este o nosso nível como povo. Aliás se isto não é representativo das nossas prioridades no palco político, não sei o que será. Bem, estou a divagar. Como cedo me interessei pela história do povo palestiniano, cedo também procurei ler sobre ela. Encontrei algumas obras em alfarrabistas como: Cultura e Resistência de Edward Said e Memórias de Uma Aldeia Palestiniana Desaparecida de Mohammed Al Asaad. Ou Miral de Rula Jebreal e o mais recente Um Detalhe Menor de Adania Shibli.

Aconselho todos mais do que o do Joe Sacco. Desculpem-me os fãs da banda desenhada.

Artigo interessante sobre o Edward Said, uma das principais vozes palestinianas no Ocidente, aqui.

 

04
Abr24

O Anel Dos Löwenskölds de Selma Lagerlöf

Cláudia F.

Sou pessoa de listas, pelo que passo algum tempo (demasiado) a elaborar as mais variadas listas de livros ou filmes, sendo que se com os filmes consigo ir eliminando, já com os livros elas só crescem. São mini agendas e blocos que andam perdidos lá por casa com páginas cheias de listas de livros por países, temas, géneros, prémios, editoras, enfim...

Foi enquanto fazia mais uma lista que fiquei a conhecer a existência da Sra. Selma Lagerlöf provavelmente enquanto procurava por obras escritas por mulheres (uma das minhas manias dos últimos anos). Encontrei-o na biblioteca. Poderia ter sido uma leitura mais rápida mas calhou numa altura atribulada e foi só arrastada. Não que não tenha tido o seu interesse, gostei particularmente da atmosfera em que se ambienta a história e dos cenários. O tom moralista da narração não me convenceu. Senti que estava a ler um conto educativo para crianças. Percebi mais tarde que é uma trilogia e até gostava de ler os outros dois livros (nem sei se estão traduzidos), só para conhecer que desenvolvimentos se seguem.

Foi uma leitura mediana, que me entusiasmou mais no pós-leitura imediato e que agora, mês e meio depois, me diz pouco. Terei de explorar mais as obras da escritora. Pelo menos apreciei a sua escrita, o que é sempre meio caminho para não a excluir no futuro.

Pode ser comprado aqui.

03
Abr24

Doida Não e Não de Manuela Gonzaga

Cláudia F.

Desconhecia a história de Maria Adelaide da Cunha até me cruzar com o livro de Manuela Gonzaga. 

Julguei que pelo volume do livro ia chegar a uma certa altura em que a leitura se tornaria aborrecida, afinal haveria tanta informação assim sobre um acontecimento tão lá para trás no tempo? Pois não aconteceu. Foi uma leitura bastante agradável, pouco dada a laivos de romance histórico, sucinta aos factos e acontecimentos a que a escritora conseguiu aceder através de documentação armazenada na casa da família Cunha.

"tive acesso a relatórios médicos detalhados, processos policiais, registos de tribunal, actas, bilhetinhos, cartas, diários, fotografias, livros publicados na época, assinados por psiquiatras, advogados, jornalistas, gente directa ou indirectamente envolvida na trama. Passei muitas semanas a consultar jornais, sobretudo A Capital e o Diário de Notícias de 1919 a 1923. Cruzei informações. Recolhi testemunhos orais, pois conheci pessoas que ainda chegaram a conhecer Maria Adelaide depois dela ter saído do Hospital Conde de Ferreira. Visitei os locais onde tudo isto se desenrolou. E, passei meses e meses na biblioteca da Senhora de São Vicente a ler e anotar de fio a pavio a documentação encontrada no fundo falso de uma escrivaninha. Eram as peças que Alfredo da Cunha coligira, para montar a teia da sua defesa e do seu ataque. Tudo, e por iniciativa dos novos donos, devidamente catalogado e arrumado em pastas. Centenas de documentos. Muitos milhares de páginas. Fascinante."

Fascinante, sem dúvida. De realçar que o que mais me interessou foi a manipulação da opinião pública e do circulo de proximidade de Maria Adelaide contra a própria, manipulação essa feita com base nas teorias cientificas mais "avançadas" da época na área da psiquiatria: as mulheres que fugiram ao padrão dos "bons costumes" eram histéricas, depressivas e claramente incapazes, portanto a solução estava numas temporadas enclausuradas em hospitais para doentes mentais, privadas de contacto com o exterior, onde a única coisa que crescia era o sentimento de injustiça. É realmente sinistro olhar para os problemas mentais, na figura da mulher, e associa-los ao útero ou ao clitóris; uma mulher decidir trair o seu marido jamais poderia ser um acto de uma mulher "sã", segundo os maiores psiquiatras portugueses como Egas Moniz ou Júlio de Matos (que seguiam a corrente de pensamento internacional). Não fosse Maria Adelaide uma senhora da alta sociedade e talvez nunca tivesse conseguido escapar. Aliás, quantas Marias Adelaides não terão existido sem terem deixado rasto?

Este livro acaba por complementar a leitura d'O Papel de Parede Amarelo de Charlotte Perkins Gilman, ainda que de forma não programada. Quando peguei neste Doida Não e Não não tive presente que tinha lido outro com a mesma temática recentemente.

Após ler, pesquisei um pouco sobre a Sra. Maria Adelaide e parece que há uma certa polémica em torno de um livro da Agustina Bessa Luís e na sua adaptação Ordem Moral. Não li Doidos e Amantes nem vi o filme, mas lendo esta entrevista não fiquei com vontade.

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