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28
Mar24

Tudo é política

Cláudia F.

Ninguém se questiona sobre a quantidade de livros publicados só sobre Auschwitz?

O Tatuador de Auschwitz, O Mágico de Auschwitz, A Bailarina de Auschwitz, As Gémeas de Auschwitz, As Costureiras de Auschwitz, As Cartas Perdidas de Auschwitz, O Farmacêutico de Auschwitz, A Ruiva de Auschwitz, Sonata em Auschwitz, O Bebé de Auschwitz, Os Bebés de Auschwitz, A Rapariga de Auschwitz, O Fotografo de Auschwitz, Os Que Desapareceram em Auschwitz, A Bibliotecária de Auschwitz, O Voluntário de Auschwitz, Duas Irmãs em Auschwitz, O Violino de Auschwitz, A Contadora de Histórias de Auschwitz, As Irmãs de Auschwitz, O Sabotador de Auschwitz, A Pianista de Auschwitz, O Rapaz de Auschwitz, A Violinista de Auschwitz, O Carteiro de Auschwitz...

Pesquisando sobre a invasão da Ucrânia, livros publicados entre 2022 e 2024:

A Mais Breve História da Ucrânia, Ucrânia Insubmissa, Uma Mensagem da Ucrânia, A Ucrânia e a Rússia, Ucrânia - 35 Pontos Fundamentais para Entender a Invasão Russa, Uma Encíclica sobre a Paz na Ucrânia, Ali Está o Taras Shevchenko com Um Tiro na Cabeça: Diário da Ucrânia, A Verdadeira Guerra: A invasão da Ucrânia e a Defesa Nacional Portuguesa, A Porta da Europa: Uma História da Ucrânia, Os Resistentes: O poder do sacrifício humano no combate ao invasor. Da antiguidade à Ucrânia, Viagem ao Coração de uma Guerra Futura
Ucrânia, Rússia, Leste da Europa 1995-2022, A Guerra Quente e a Paz Fria - Sobre as origens da guerra na Ucrânia, A Guerra Russo-Ucraniana
O regresso da história, Ucrânia - Uma guerra de embustes, Ucrânia - O que Toda a Gente Precisa de Saber...

Neste momento penso: porra, devem existir carradas de livros sobre a ocupação da Palestina e o colonialismo israelita. Pesquiso.

Palestina - Uma Biografia - Cem anos de guerra e resistência, A mais Breve História de Israel e da Palestina - Do sionismo às intifadas e a luta pela paz, Viagem à Palestina - Prisão a céu aberto, As Origens do Conflito Israelo-Árabe...

Na primeira pesquisa utilizei apenas "livros Auschwitz". Na segunda pesquisa utilizei apenas "livros Ucrânia". Na terceira pesquisa utilizei apenas "livros Palestina".

Não posso ser a única a achar que há um problema no mercado livreiro em Portugal (e no mundo). Não posso ser a única a questionar a quem serve este filtro sobre o que se edita ou não se edita quando assistimos a um genocídio. 

Se agora, com todas as atrocidades que estão a ser cometidas pelo governo israelita, o mundo não acordar e  apoiar definitivamente a causa palestiniana, não valemos nada como colectivo que habita este planeta.

Um dia a Palestina será livre, do rio até ao mar.

Reflexões interessantes que encontrei por estes dias aqui e aqui.

Sobre o lóbi israelita/sionista: livro porreiro da Tinta da China.

Bom documentário aqui.

Ps: existem outros livros sobre a Palestina que já estão fora de circulação, só se encontrando à venda em alfarrabistas, bibliotecas e em segunda mão. Existem também outros livros sobre Auschwitz e sobre a guerra na Ucrânia mas limitei-me a listar os publicados recentemente ou que se conseguem comprar facilmente. Ler para saber é primário. Com tanto que se tem falado (mais em Outubro e Novembro) sobre a Palestina é natural que aqueles que pouco sabem sobre a situação procurem livros. Se foram à wook, por exemplo, existem aqueles três primeiros (em português). Três livros sobre uma atrocidade cometida desde 1948, com tanto para expor, para reflectir. Três livros apenas.

15
Mar24

Um Homem em Declínio de Osamu Dazai

Cláudia F.

Literatura japonesa é sempre desafiante. Costumo apreciar, ainda que reconhecendo uma certa estranheza que não é nada mais do que reflexo das diferenças entre ocidente e oriente. Também faço parte daquele grande grupo de pessoas que se fascina com a idealização da cultura japonesa: gueixas, samurais, tradição do chá, angústia, existencialismo, tendências depressivas e suicidas... Tudo coisas que fazem parte do meu imaginário sobre o Japão que apenas conheço dos livros, filmes e animação.

Um Homem em Declínio ofereceu tudo o que eu esperava. Incluindo a sensação de desagrado e desconforto fruto das decisões e percurso de vida do protagonista. O seu desespero é tão sincero que se transporta para quem lê, conforme vamos acompanhando a passagem dos anos, desde a infância até à fase adulta. O que escrever sem desvendar demasiado? Seguimos Yozo, que nasceu inadaptado. Cedo percebe que não é igual aos outros, que percepciona a realidade como se dela não fizesse parte, apenas um observador das idiossincrasias da humanidade. Por mais esforço que faça não há máscara que lhe sirva, nem papel social que o preencha. Desde as relações laborais às intimas, tudo é desastre. O retrato de um individuo permanentemente insatisfeito, que rapidamente compreende que deste mundo nada lhe será oferecido a não ser mágoa e frustração.

Dazai, a par de outros escritores japoneses, cometeu suicídio. Há muito do escritor em Um Homem em Declínio. As semelhanças entre a vida do escritor e a trajectória do protagonista são óbvias após se pesquisar um pouco. A par de Kenzaburo Oe (li e não adorei), Osamu Dazai é um dos grandes nomes dentro do género shishōsetsu e irei com certeza ler pelo menos As Flores do Riso (actualmente em português só se encontram traduzidos dois livros).

13
Mar24

O Papel de Parede Amarelo de Charlotte Perkins Gilman

Cláudia F.

Muito interessante este O Papel de Parede Amarelo de Charlotte Gilman. De forma breve, mas bem conseguida, explora as perturbações de uma mulher cujo marido é também o seu médico. Tendo como diagnóstico um quadro de histeria depressiva, a cura passa por um período de afastamento social numa casa arrendada para o efeito e onde a narradora fica sob total controlo por parte do esposo. Isolada, sem ter com quem falar abertamente e privada de circular fora da casa, acaba por ficar obcecada pelo papel de parede amarelo do seu quarto.

É um conto realmente fascinante. Em poucas páginas a autora estabelece um clima de medo e loucura bem estruturado, lendo-se rapidamente e com um final que abre portas a múltiplas interpretações. Parece-me que há muita simbologia em torno do papel de parede, da figura feminina, de como a personagem (no seu delírio) é puxada para um mundo cheio de outras mulheres que lá habitam.

Mas que mulher foi Charlotte e que experiências marcaram não só a sua existência, como as suas obras? Nascida em 1860, filha de pai-que-abandona, vivia na pobreza. Por este motivo passava grandes temporadas com tias - mulheres politizadas, ligadas à escrita e educação. Era boa aluna, gostava de pintar e ler. Na escola manteve uma relação platónica com uma amiga, recusando o ideal romântico entre homem e mulher, até se casar em 1884. Um ano mais tarde é mãe. Casamento e maternidade intensificaram o seu estado depressivo (como não, certo?). E também ela, a par da protagonista do Papel, passa pelo "bed rest", nada mais nada menos que: deitada, sem esforços e excitações, vegetar na cama até novas ordens. Comprovou-se que este tratamento de eficaz tinha pouco. Com Charlotte quase a conduziu ao suicídio. Seguiu-se o divórcio. Volta a casar com um primo advogado. Envolve-se em várias associações políticas, utilizando a escrita para reforçar as suas preocupações sobre os direitos das mulheres, a figura feminina e a participação activa das mulheres na sociedade. Suicida-se após lhe ser diagnosticado cancro.

Aparentemente uma mulher para admirar não é? Só que não. A boa da Charlotte achava que os americanos negros eram um problema. E o que que era porreiro era agarrar nessa malta e fazer uma espécie de nova escravatura. Com certeza quando defendia o direito ao voto era o direito ao voto para mulheres brancas e instruídas. Não o resto da plebe. A eugenia estava em voga e sabemos bem como foi a primeira vaga feminista.

Ultrapassando que estamos a ler alguém racista, vale a leitura.

07
Mar24

Via Ápia de Geovani Martins

Cláudia F.

Há alguns anos ouvi no podcast A Beleza das Pequenas Coisas o escritor Giovani Martins. Fiquei tentada a lê-lo. Cruzei-me com Via Ápia na biblioteca e trouxe-o comigo.

Se há escritores que apresentam uma escrita difícil de decifrar apesar de escreverem em português, outros há que mesmo recorrendo a um calão que me é desconhecido se revelam numa linguagem que compreendo quase automaticamente. É acessível, directa e fez-me virar página atrás de página.

"O sangue que flui nas veias de Via Ápia não é tanto a narrativa relativa às suas personagens, visto que o romance não tem uma história particularmente forte em termos de enredo, mas sim uma espécie de diário da opressão.

Via Ápia retrata muito bem o medo da polícia e os abusos físicos/psicológicos aleatórios, perpetuados pela inacção política, contra os moradores; a ideia aceite de que a qualquer momento se vai ser parado, revistado e agredido, sem motivo real, espelha o sentimento de injustiça que acompanha desde tenra idade Washington e Wesley (irmãos) e os três amigos Douglas, Murilo e Biel. Ainda que a realidade brasileira, no que toca ao funcionamento e organização da polícia, tenha muitas diferenças da portuguesa, é muito mais aquilo que nos une do que o aquilo que nos separa. Infelizmente.

Um factor constante ao longo da obra é a banalização do consumo de droga, seja leve ou pesada. Não apreciei e torna-se em certos momentos a única coisa que parece ter relevância no dia-a-dia das personagens. Navega-se numa ideia que parece ignorar os factores negativos não só do consumo mas do tráfico e dessa ligação à população da favela e por extensão à política de actuação da polícia. Acho que nem tão preto nem tão branco. Fica de parte todo o cinza que não entra na equação de Geovani.

Há aspectos que me deixam dividida, como:

1. A ausência de oscilações no carácter das personagens; são todas lineares e pouco desafiantes. É demasiado fácil criar empatia e revermos-nos em todos eles. Faltou um filho da mãe ali no meio. E sim, podemos ver a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) ou qualquer força que actue como opressor - sistema capitalista, por exemplo - como vilão nesta história. Ainda assim senti falta de mais camadas, de um pico de intensidade que nunca chega.

2. Compreendo que marginalizar os que já são marginalizados acrescentaria zero e talvez parta daí a motivação do escritor em construir a história desta maneira: gente boa, com sonhos e ambições profissionais, pacífica, que só quer uma vida boa. 

Foi com uma sensação agridoce que o terminei. Não é um mau livro, longe disso. Apenas não foi tudo aquilo que eu acredito ter potencial para ser.

Boa análise e informações sobre Via Ápia aqui.

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