Conheci Claire Keegan com Pequenas Coisas Como Estas. Foi uma leitura agradável. Não achei uma obra genial, mas a escrita acessível e o tema explorado fazem com que seja um livro muito interessante (o impacto da religião na sociedade, principalmente para as mulheres, continua a ser actual e necessário à reflexão). Ficou, para mim, um bocadinho à superfície e acredito que havia espaço para algum contexto histórico, de forma a que parte das questões que se vão colocando fossem respondidas no desenrolar da narrativa.
Entretanto encontrei este segundo livro nos destaques da biblioteca e como livros pequenos são sempre uma atracção, decidi requisitar.
Confesso que gostei mais de Acolher. É um livro simples, com personagens simples, acção simples. E no meio de tanta simplicidade - que pode não agradar a todos os leitores - a escritora consegue fazer muito com muito pouco. A verdade é que o li num par de horas. Há um véu muito fino que separa o apelo gratuito de algo realisticamente emotivo e tocante. O final quase que ultrapassa esse véu; é esperado e não deixa de ser dorido. Keegan tem a capacidade extraordinária de explorar as emoções ao ponto do leitor se envolver profundamente com uma história que não prima pela originalidade. Deve ser um dom ou assim.
Para o clube de leitura da biblioteca que frequento, li O Rei Lear de William Shakespeare. Gosto muito de ler teatro mas odeio bobos. Odeio mesmo o raio do bobo, com o seu sarcasmo, trocadilhos e enigmas. Agradou-me a forma como o quadro demencial é abordado tendo em conta a posição de poder da personagem. Não foi necessariamente uma leitura prazerosa mas a análise da peça, se tivermos em conta a época em que foi escrita e o contexto histórico em que se desenrola, tem a sua relevância mais que justificada. Escrevo isto apesar de torcer um bocadinho o nariz à forma como as personagens femininas são trabalhadas (é o menos bom de ler coisas de 1600 e picos).
Só que me enganei pois não era esta a obra escolhida para Janeiro mas sim Leite Derramado de Chico Buarque. Ainda o consegui requisitar, mas não o terminei, pois tão pouco me interessou. As referências à história e cultura brasileira dirão muito a quem está por dentro e pouco a quem desconhece. Das poucas páginas que li (60) achei raso e pouco original. Há alguns anos que me permito desistir de livros. São muitas opções e pouco tempo. Reconheço que é um escritor/cantor acarinhado, compreendo quem leu e gostou, mas a mim nada disse.
No início, dei por mim um tanto ou quanto perdida, sem perceber muito bem que caminhos a personagem principal ia seguir e quis as consequências das suas decisões. A meio da leitura mergulhei de cabeça na espiral de loucura, degradação e caos que formam uma teia verdadeiramente fascinante entre as várias personagens.
O premissa é de que os nossos traumas, manias e coisas que tais, nos condicionam como uma mutilação. Isto por si só oferece um grande ponto de partida para reflexão. No entanto, pensamentos felizes ou de superação não existem aqui. O escritor oferece desconforto, desespero e um futuro pessimista para toda a humanidade, pois que mutilados somos todos. Sejam elas mutilações físicas ou mentais, acolhidas ou negadas, individuais ou colectivas.
Terminei com aquele gostinho de estar perante uma grande obra. Não sei se com a passagem do tempo não se tornará mesmo um favorito. É daqueles que precisam de distanciamento para se entranharem.
Agrada-me a obra de David Fincher. Já este filme não sei bem. Que a fotografia e a banda sonora são maravilhosas é inegável. O problema é quando termina e nos perguntamos: é só isto?
Entretém, é bom cinema mas fica abaixo das expectativas. Talvez o mal esteja em mim.
Terminei o ano com a sensação que li muito mas não li grande coisa. Não foram 12 meses de leituras brilhantes. Muitas histórias medianas, livros abandonados (há aqui material para uma publicação só sua) e contam-se pelos dedos as paixões ou descobertas dignas de memória.
Comecei 2024 com Estendais de Gisela Casimiro. Bom início, capa atractiva, escrita acessível. Crónicas não são a minha praia mas dependendo da temática abordada posso ultrapassar a dificuldade. Infelizmente não foi o que aconteceu. Senti que a escritora estava a escrever para si própria e não para o leitor, sobre acontecimentos que tiveram importância para ela mas que não foram trabalhados o suficiente para ser tornarem interessantes para mim. Grosso modo, perdi o interesse a meio. Aguardei desenvolvimento ou profundidade em aspectos que, pela brevidade e tamanho dos textos, não teriam como existir (não estou totalmente certa desta afirmação, mas adiante). Foi uma leitura assim-assim, com partes que me agradaram muito mas que na realidade já esqueci.
Partilhava uma conta de Instagram com uma amiga, sobre livros e leituras. A iniciativa arrancou com bastante entusiasmo e expectativa, que cedo esmoreceu. Julgava que iria encontrar ali uma atmosfera próxima dos blogs e foruns (esses pilares da pré-história da sociabilidade virtual). Não aconteceu. E está tudo bem. Cada coisa na sua coisa, não é? A amiga continua por lá (e bem). Eu abandonei.
Eis que aqui estou. Para escrever o que me apetece sem ter de me preocupar com susceptibilidades alheias, criar contéudo especifico ou likes. Acho que o meu ultimo blog morreu há uns 12 anos. O que significa que passou tempo suficiente para não me recordar dos pontos negativos e sim da satisfação que é ter um sitio para despejar o que vai dentro desta cabeça.